UM CADÁVER NO RIO IMJIN

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O título de criador da revista Mad já teria sido mais do que suficiente para consolidar a figura de Harvey Kurtzman como um dos maiores mestres na história dos quadrinhos. Mas sua influência vai muito além do humor ácido e anárquico visto no Livro da Selva (Veneta, 2021) e nos primeiros números da revista. Antes mesmo da Mad, no início de seu trabalho para a lendária editora EC Comics, Kurtzman criou duas outras publicações que teriam imensa influência na evolução do meio: a Two-Fisted Tales e a Frontline Combat.

O ano era 1950, os Estados Unidos estavam tomados pela paranoia anticomunista e pelo furor patriótico provocado pelo envolvimento do país na Guerra da Coreia. Contra toda essa loucura, Kurtzman resolveu denunciar em seus gibis os horrores da guerra. Foi vigiado pelo FBI e espionado pelas Forças Armadas, mas as histórias que criou naquele momento tornaram-se clássicos e exemplos marcantes da coragem de um artista. Aqui, pela primeira vez, os quadrinhos de guerra distanciavam-se da visão maniqueísta do “nós contra eles”.

Focando na Guerra da Coreia, mas abordando também uma série de outros conflitos, desde a colonização do México no século XVI, passando pelos confrontos entre indígenas e contrabandistas na Amazônia, até as trincheiras da Sicília na Segunda Guerra Mundial, o quadrinista mostrou que a verdadeira face da guerra não tinha nada de bonita. No lugar de sargentos másculos e heroicos massacrando vilões estrangeiros animalescos, desprovidos de personalidade, o que temos aqui é um olhar sério e desolador sobre o horror e a loucura do campo de batalha, sustentado por uma pesquisa minuciosa e uma expressividade única.

Um Cadáver no Rio Imjin compila toda a produção desta fase, trazendo pela primeira vez ao Brasil as histórias que geraram uma verdadeira revolução na produção de HQs dos anos 1950. Algumas desenhadas pelo próprio Kurtzman, outras roteirizadas por ele com a arte daqueles que se tornariam alguns dos mais celebrados artistas do meio: Joe Kubert, Alex Toth, John Severin, Ric Estrada, Gene Colan, dentre tantos outros.

Tudo isso em uma verdadeira edição de colecionador, repleta de textos de apoio escritos pelos maiores especialistas em EC Comics (incluindo uma introdução exclusiva da edição brasileira, por Rogério de Campos), uma galeria com todas as capas desenhadas por Kurtzman, em cores restauradas, bem como diversas fotos e materiais raros da época.

Uma coletânea daqueles que foram “provavelmente os melhores quadrinhos de guerra já impressos” (segundo Paul Gravett) e uma leitura incontornável para todo leitor de quadrinhos que queira entender como chegamos até aqui.

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