A ROSA DE NINGUÉM (1963) é um dos principais livros de Paul Celan, escritor cuja vida e obra foram profundamente marcadas pela experiência da Shoah e que é hoje reconhecido como um dos poetas mais importantes de língua alemã. Dois fatos foram determinantes para a escrita do livro: uma campanha difamatória de caráter antissemita promovida então contra Celan, e sua descoberta do poeta russo, também judeu, Óssip Mandelstam (a quem a obra é dedicada), com o qual sente uma identificação plena.
Em seu discurso de agradecimento pelo Prêmio de Literatura da Cidade de Bremen, em 1958, pouco antes de começar a trabalhar no livro, Celan diz que, em meio a todas as perdas que sofreu, a língua foi a única coisa que não se perdeu: “Mas ela teve de atravessar sua própria falta de resposta, teve de atravessar um emudecimento terrível, teve de atravessar as trevas sem fim do discurso mortífero. Fez essas travessias e pôde voltar à tona, ‘enriquecida’ por tudo isso”.
É nessa língua decantada, atravessada pelo trauma e reforjada nas sombras e no silêncio que Celan constrói sua poesia de resistência e de afirmação radical da vida, aqui belamente recriada na tradução de Mauricio Mendonça Cardozo: “Um nada/ éramos, somos, continuaremos/ sendo, florescendo:/ a rosa de nada, a/ rosa de ninguém”.
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